Se você morrer hoje, vai trazer alívio ou deixar saudades?

Se você morrer hoje, vai trazer alívio ou deixar saudades?

Em meio a uma conversa com uma amiga, uma frase simples, porém impactante, despertou uma profunda reflexão: “Depois que fulano morreu, a sua companheira virou outra pessoa e passou a viver feliz.” Esse comentário abriu um novo olhar sobre a maneira como nossas vidas afetam as pessoas ao nosso redor e como nossas atitudes moldam o ambiente em que estamos inseridos.

A partir daí, surgiu um questionamento inevitável: Se você morrer hoje, será que vai trazer alívio ou vai deixar saudades?

Essa pergunta pode parecer incômoda à primeira vista, mas sua essência nos leva a refletir sobre o tipo de impacto que estamos causando na vida das pessoas com quem convivemos.

Será que a nossa presença é uma fonte de felicidade, apoio e crescimento para os outros, ou, ao contrário, representamos um fardo, uma barreira para o bem-estar daqueles que nos cercam?

Qual é a influência que você exerce sobre os outros?

Durante dias, essa reflexão permaneceu viva em minha mente. Passei a me perguntar se, para aqueles que me rodeiam, minha ausência seria uma perda ou um ganho silencioso. E, claro, provoco você a fazer o mesmo.

A verdade é que, na maior parte das vezes, acreditamos que nossas intenções são as melhores. As pessoas que estão ao nosso redor, em geral, são aquelas que escolhemos e permitimos que permaneçam ali por meio dos vínculos que construímos ao longo do tempo.

No entanto, será que estamos realmente contribuindo para que essas relações sejam saudáveis? Será que nosso comportamento fortalece os laços que nos unem ou, sem perceber, estamos desgastando essas conexões?

A liberdade pode vir após a perda de um vínculo?

A história que minha amiga me contou revela um cenário triste: uma mulher que só conseguiu experimentar a verdadeira liberdade e felicidade após a morte de seu companheiro. Essa constatação me fez pensar em quantas pessoas vivem aprisionadas em relações onde, mesmo que haja amor, a convivência se tornou insuportável, tóxica ou limitante.

É lamentável que, em muitos casos, as pessoas precisem esperar pela morte de alguém para, enfim, se sentirem livres. Liberdade essa que, na verdade, poderia ter sido conquistada antes, por meio de diálogos sinceros. Bem como, ajustes na convivência ou até mesmo rompimentos, quando necessário.

Eu, pessoalmente, busco viver de uma maneira que permita ser quem realmente sou, sem me tornar um peso para as pessoas ao meu redor. Desejo construir relacionamentos saudáveis, onde todos possam crescer e se desenvolver sem que haja ressentimentos ou barreiras emocionais.

O cérebro resiste a rompimentos, mas eles podem ser necessários

O nosso cérebro, biologicamente, é programado para evitar rompimentos. Ele enxerga o rompimento de vínculos como uma ameaça à sua segurança, o que dificulta cortar relações, mesmo quando elas já não são mais saudáveis.

Contudo, às vezes, o afastamento é o caminho necessário para restaurar o equilíbrio e permitir que tanto você quanto as pessoas ao seu redor vivam de maneira mais leve e plena.

É doloroso imaginar que nossa ausência possa ser um alívio para alguém. Mas essa dor também deve servir como um impulso para repensar a forma como vivemos nossas relações.

Em vez de deixar um legado de alívio, esforce-se para ser lembrado como alguém que trouxe alegria, compreensão e empatia enquanto esteve presente. Assim, ao partirmos, deixaremos saudades, e não a sensação de que nossa partida foi um presente.

Quando você morrer, o que você quer deixar para o mundo?

A grande questão que fica é: o que você deseja deixar para o mundo? Que tipo de lembrança você quer que as pessoas carreguem de você? Quer ser lembrada como alguém que trouxe paz, felicidade e ensinamentos valiosos, ou como alguém que só fez o bem após partir?

Viver uma vida autêntica não significa apenas ser fiel a si, mas também estar atento ao impacto que nossas atitudes têm sobre os outros.

Somos todos responsáveis pelo ambiente que ajudamos a criar, e, mais do que isso, somos responsáveis pelas marcas que deixamos nas pessoas ao nosso redor.

O equilíbrio entre ser verdadeiro consigo mesmo e manter relações saudáveis é um desafio constante, mas é essencial para que, quando partirmos, deixemos saudades e não alívio.

Faça sua reflexão: você está vivendo ou apenas existindo?

Portanto, convido você a refletir sobre o tipo de vida que está levando. Está apenas existindo, cumprindo um papel na vida de alguém, ou está verdadeiramente vivendo e ajudando as pessoas ao seu redor a viverem melhor também?

Olhe ao seu redor, observe as pessoas com quem convive diariamente e pergunte-se: se eu morrer hoje, vou trazer alívio ou saudades?

Essa não é uma pergunta fácil de responder, mas é necessária. Afinal, a maneira como vivemos nossa vida determina como seremos lembrados. Então, a partir de hoje, que tal viver de uma forma que, quando a morte vier, as pessoas sintam sua falta e se lembrem de você com carinho, e não com alívio?

A Neurociência e a Compreensão das Relações Humanas

Quando pensamos sobre o impacto que temos na vida das pessoas ao nosso redor, a neurociência oferece uma perspectiva importante para entendermos o papel do cérebro nesse processo.

Nosso cérebro processa constantemente informações sobre os relacionamentos que construímos, e redes neurais profundas moldam grande parte de nossas reações emocionais.

O sistema límbico, por exemplo, é a área do cérebro responsável pelas nossas emoções, e está intimamente relacionado como nos conectamos com os outros.

Como a Neurociência Explica o Impacto de Seus Relacionamentos

As relações interpessoais influenciam diretamente nosso estado mental e emocional, e a neurociência mostra que padrões de comportamento negativos ou tóxicos podem afetar não só nosso bem-estar psicológico, mas também nosso funcionamento cerebral.

Sendo assim, quando nos envolvemos em relacionamentos que geram estresse crônico ou desconforto, o cérebro ativa circuitos de ameaça, como a amígdala. O que nos mantém em um estado constante de alerta.

Por outro lado, vínculos saudáveis estimulam a produção de neurotransmissores como a dopamina e a oxitocina, promovendo a sensação de prazer e conexão.

Portanto, o impacto que deixamos nas pessoas ao nosso redor não é apenas emocional, mas fisiológico.

Portanto, ao cultivar relacionamentos positivos e respeitosos, contribuímos para a saúde mental e emocional de todos os envolvidos. Dessa forma, promovendo uma sensação de bem-estar que pode ser sentida até mesmo em níveis neuronais.

Terapia Cognitivo-Comportamental: Transformando Padrões Tóxicos

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) é uma abordagem eficaz para a identificação e transformação de padrões comportamentais e pensamentos disfuncionais que prejudicam tanto a nós mesmos quanto aos nossos relacionamentos.

A TCC afirma que nossos pensamentos influenciam diretamente nossas emoções e comportamentos. Pensamentos negativos ou distorcidos geram, sem que percebamos, comportamentos que criam tensão e conflitos nas nossas relações.

Por exemplo, se uma pessoa constantemente se percebe como insuficiente ou indigna de afeto, ela pode adotar comportamentos que sabotam seus relacionamentos. Dessa forma, criando um ambiente desagradável ou até tóxico.

A TCC ajuda a identificar essas distorções cognitivas — como a generalização excessiva ou o pensamento de tudo ou nada — e a substituí-las por pensamentos mais saudáveis e equilibrados.

Como resultado, isso não apenas melhora o bem-estar pessoal, mas também transforma a qualidade das interações com os outros.

Dessa forma, ao trabalhar com a TCC, podemos moldar nossas relações de maneira mais positiva, assegurando que nossas atitudes não se tornem um fardo para aqueles ao nosso redor.

Podemos construir um legado de compreensão e equilíbrio emocional, em vez de deixar padrões prejudiciais.

EMDR e Brainspotting: Processando Traumas e Melhorando Conexões

Outra abordagem terapêutica relevante para refletir sobre o impacto que deixamos nas pessoas é o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing), uma técnica amplamente utilizada para o tratamento de traumas.

Muitas vezes, o comportamento tóxico ou nocivo em relações surge como consequência de traumas não resolvidos. Essas experiências traumáticas afetam profundamente nossa percepção de nós mesmos e dos outros, moldando nossas respostas emocionais de maneiras que nem sempre são conscientes.

O EMDR auxilia no processamento dessas memórias traumáticas, reduzindo sua carga emocional e permitindo que a pessoa recupere o controle sobre suas reações.

Sendo assim, quando liberamos o peso dos traumas, passamos a ter interações mais saudáveis, tanto com nós mesmos quanto com os outros. Isso nos permite ser lembrados como indivíduos que contribuíram positivamente para a vida dos que estão ao nosso redor.

Brainspotting é outra técnica que complementa essa abordagem

Focada no processamento de traumas e emoções através de pontos específicos de fixação ocular, o Brainspotting acessa áreas profundas do cérebro, onde memórias e emoções dolorosas ficam armazenadas.

Ao trabalhar essas memórias de forma terapêutica, conseguimos não apenas aliviar o sofrimento interno, mas também melhorar a qualidade de nossos relacionamentos.

Sem as influências prejudiciais dos traumas, tornamo-nos mais capazes de construir ambientes emocionais saudáveis e contribuir para o bem-estar das pessoas ao nosso redor.

Para ser lembrado com carinho e saudade, cure primeiro suas próprias feridas internas.

Afinal, o que projetamos nos outros é, muitas vezes, um reflexo do que carregamos dentro de nós.

Sim, a morte é inevitável

Em suma, a reflexão sobre o impacto que deixamos na vida dos outros é uma das mais importantes que podemos fazer. A morte é inevitável, mas a maneira como vivemos até lá está sob nosso controle.

Esforce-se para viver e criar lembranças positivas, para que sintam sua ausência com saudade, não com alívio.

Sou Betila Lima – Psicóloga

Formada em Psicologia desde 2007, com formação em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva Comportamental, Terapia de EMDR e Brainspotting.

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