A relação entre pais e filhos é um dos pilares mais importantes para a formação emocional e psicológica de qualquer pessoa. Desde a infância, o ambiente familiar exerce um impacto profundo na saúde emocional. Dessa forma, moldando a maneira como se lida com sentimentos, desafios e relacionamentos ao longo da vida. Quando a relação com os pais é marcada por ausências, exigências excessivas ou atitudes que geram dependência emocional, essas dinâmicas podem se transformar em causas de problemas emocionais duradouros.
Como a relação com os pais impacta a saúde emocional?
A saúde emocional de uma pessoa é, na maioria, influenciada pelas primeiras interações que ela tem com seus pais ou cuidadores. Pais presentes e emocionalmente disponíveis ajudam a construir uma base sólida de autoestima, segurança e confiança. Contudo, quando há comportamentos tóxicos, como ausência emocional ou controle excessivo, a criança pode crescer com sentimentos de insegurança, ansiedade e baixa autoestima.
Esse impacto na saúde emocional se reflete na vida adulta. Em outras palavras, quem experimenta relações familiares problemáticas pode ter dificuldades em estabelecer relações saudáveis, confiar nas pessoas e lidar com o próprio autocuidado. Assim, a relação com os pais não apenas define as memórias e comportamentos na infância. Mas também influencia o bem-estar emocional em todas as etapas da vida.
A relação com os pais na infância e adolescência
Na infância, as crianças dependem totalmente dos pais para orientação emocional. Pais que estão presentes, que dialogam e demonstram afeto ensinam a criança a confiar e a compreender suas próprias emoções. Já na adolescência, quando a busca por identidade é mais intensa, o suporte e o entendimento dos pais continuam fundamentais.
Por outro lado, pais que criam muitos problemas ou que impõem expectativas rígidas e inflexíveis geram tensão emocional nos filhos. Jovens constantemente criticados ou comparados podem desenvolver sentimentos de inferioridade, ou perfeccionismo excessivo. Esses problemas, muitas vezes, se transformam em ansiedade ou em dificuldades de adaptação social. Ainda assim, é importante notar que essas questões não desaparecem com o tempo. E a ausência de um suporte emocional saudável pode se perpetuar até a vida adulta.
A desregulação emocional não volta a se regular depois de um pedido de desculpas
Uma das questões mais desafiadoras em relações familiares é a crença de que um simples pedido de desculpas pode reparar o dano causado por anos de comportamentos tóxicos ou abusivos. A desregulação emocional, que muitas vezes nasce de traumas e experiências familiares difíceis, não desaparece apenas com uma reconciliação ou um pedido de perdão.
Essa desregulação ocorre quando a pessoa é exposta repetidamente a comportamentos instáveis, como agressividade, manipulação ou negligência, e isso prejudica sua habilidade de lidar com as emoções de forma saudável. Mesmo que os pais reconheçam seus erros e busquem uma aproximação, o impacto emocional já enraizado pode exigir anos de terapia para ser amenizado e superado.
Portanto, o processo de cura emocional vai além do perdão. Exige que o indivíduo reconstrua, aos poucos, o entendimento de si mesmo e aprenda a gerenciar suas emoções de maneira equilibrada. A verdadeira mudança envolve mais do que palavras; requer um comprometimento constante de ambas as partes e, em muitos casos, um distanciamento para que a pessoa possa se redescobrir fora da influência tóxica familiar.
O mais difícil é amar o que não é parecido com o que gostamos em nós
Muitas vezes, a dificuldade que pais e filhos encontram em estabelecer uma conexão saudável vem do fato de que, subconscientemente, buscamos afinidade e espelhamento nas pessoas próximas. Pais que não se reconhecem na personalidade ou nas escolhas de seus filhos podem desenvolver um distanciamento ou até ressentimento, tornando o relacionamento ainda mais desafiador.
A aceitação plena envolve a habilidade de amar e apoiar o outro, independentemente das diferenças. Quando um pai ou uma mãe projeta suas expectativas no filho e deseja que ele espelhe seus valores, isso pode gerar uma pressão emocional devastadora. O filho, por sua vez, sente a cobrança de corresponder a um padrão que não é o seu, o que leva a uma quebra da autenticidade e da autoestima.
Amar o que não reflete exatamente quem somos é um dos maiores desafios nas relações familiares. Isso demanda empatia e desapego da imagem idealizada do outro, permitindo que cada um seja aceito como realmente é. Esse tipo de aceitação é fundamental para uma relação equilibrada e fortalece o vínculo emocional.
Quando os pais criam muitos problemas: como isso afeta os filhos?
A dinâmica de pais que constantemente criam problemas ou dramatizam situações tem um impacto devastador na autopercepção e na capacidade de autonomia dos filhos. Um pai ou mãe que se vitimiza ou que constantemente exibe comportamentos dramáticos cria um ambiente emocionalmente instável. Os filhos, nessas circunstâncias, aprendem a internalizar o sofrimento como parte constante da vida, o que pode resultar em uma tendência a carregar sentimentos de culpa ou se sentir responsáveis pelo bem-estar dos outros.
Esse cenário afeta diretamente a habilidade do indivíduo de enfrentar os próprios desafios, pois a sobrecarga emocional causada pela instabilidade familiar bloqueia o desenvolvimento de mecanismos saudáveis de enfrentamento. Ou seja, a criança ou adolescente pode crescer acreditando que qualquer dificuldade é insuperável ou que necessita de outra pessoa para resolver seus problemas, reforçando a dependência emocional.
O impacto do pai ausente
A ausência de um pai, seja física ou emocional, gera uma lacuna importante na construção da autoconfiança e na definição de limites. Quando o pai é ausente, a criança pode se sentir desamparada, insegura e sem referência para compreender seu papel no mundo. Além disso, a falta de uma figura paterna participativa pode resultar em dificuldades para estabelecer laços de confiança e afetividade no futuro.
Pais que, por outro lado, acreditam que seu papel se restringe a prover financeiramente e que não participam das questões emocionais dos filhos também deixam marcas profundas. Essa falta de conexão emocional pode levar os filhos a acreditarem que não são importantes ou dignos de atenção, o que, muitas vezes, reflete em problemas de autoestima e em um sentimento persistente de solidão.
A influência de uma mãe ausente ou superprotetora
Assim como a ausência de um pai impacta a formação emocional, uma mãe ausente ou excessivamente superprotetora também pode gerar desequilíbrios. Mães que se vitimizam frequentemente e criam doenças emocionais, por exemplo, geram um clima de constante apreensão e instabilidade. A criança, que tende a observar e absorver esses comportamentos, pode crescer com medo de expressar seus próprios sentimentos ou com a crença de que o sofrimento faz parte natural da vida.
Uma mãe que faz da vitimização uma ferramenta emocional frequentemente desencoraja a autonomia dos filhos, fazendo com que eles se tornem dependentes e inseguros. Essa influência pode ser tão intensa que, mesmo na fase adulta, os filhos sentem dificuldade em tomar decisões ou buscar independência, já que a sensação de dependência emocional foi reforçada por anos.
Fazer terapia é isso: fazer merda com consciência e assumir as consequências
A terapia é um processo de autoconhecimento profundo que nos permite entender a complexidade das nossas emoções e comportamentos. No entanto, estar em terapia não significa que erros ou atitudes impulsivas deixarão de acontecer. Pelo contrário, o processo terapêutico muitas vezes nos torna mais conscientes de nossas ações, mesmo aquelas que sabemos não serem as melhores.
Essa consciência é o que diferencia alguém que busca crescimento emocional de alguém que evita confrontar suas próprias limitações. Em terapia, o indivíduo aprende a reconhecer quando está tomando decisões inadequadas e aceita que essas decisões terão consequências. Esse entendimento traz uma responsabilidade maior, pois a pessoa já sabe que determinadas atitudes não contribuem para o bem-estar próprio ou dos outros.
É, portanto, um aprendizado constante de autorresponsabilidade. Terapia não significa perfeição, mas sim a capacidade de enxergar nossos erros com clareza, entender sua origem e estar disposto a lidar com as repercussões desses atos. Esse é um dos aspectos mais transformadores da jornada terapêutica: a habilidade de assumir, compreender e, eventualmente, mudar.
Terapias que auxiliam na superação de traumas de pais: conheça a TCC com EMDR e o Brainspotting
Para superar os efeitos de uma relação parental problemática, muitas pessoas recorrem a terapias que auxiliam na ressignificação desses traumas. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), aliada a técnicas como o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) e o Brainspotting, é altamente eficaz para esse propósito.
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Focada na reestruturação de padrões de pensamento negativos, a TCC ajuda o paciente a identificar e transformar crenças disfuncionais desenvolvidas ao longo da vida. Ela é especialmente útil para quem cresceu em ambientes familiares problemáticos, pois permite identificar padrões de comportamento prejudiciais e substituí-los por novas formas de pensar e agir.
- EMDR (Dessensibilização e Reprocessamento por Movimento Ocular): O EMDR é uma abordagem que ajuda a processar e liberar traumas, utilizando movimentos oculares para suavizar as memórias dolorosas e reprogramar o cérebro. Ele é muito utilizado para quem enfrentou traumas complexos e prolongados, como relacionamentos tóxicos com os pais, possibilitando uma cura emocional profunda.
- Brainspotting: Essa técnica atua diretamente no cérebro, ajudando a liberar bloqueios emocionais que afetam o bem-estar. É uma abordagem que facilita o acesso a memórias traumáticas, permitindo ao paciente processar de forma segura e restaurar a tranquilidade emocional. O Brainspotting é especialmente útil para lidar com traumas relacionados à infância, trazendo alívio para sintomas como ansiedade e depressão.
Essas terapias são caminhos para aqueles que buscam superar o impacto de uma relação parental complicada. Através de técnicas que vão além da terapia tradicional, o indivíduo pode resgatar sua autoestima, promover o autoconhecimento e reconstruir a confiança em si mesmo.
Como superar os impactos de uma relação disfuncional com os pais?
Superar os impactos emocionais de uma relação parental disfuncional é um processo gradual, que envolve a conscientização, o perdão e a reconstrução da própria identidade. Cada pessoa carrega suas próprias experiências, e buscar ajuda psicológica é o primeiro passo para transformar esses traumas em aprendizado e resiliência.
Afinal, embora a infância e adolescência influenciem intensamente o comportamento e as emoções, é possível, com auxílio terapêutico adequado, romper com padrões herdados e construir uma vida emocionalmente saudável e independente.
Sou Betila Lima – Psicóloga
Formada em Psicologia desde 2007, com formação em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva Comportamental, Terapia de EMDR e Brainspotting.
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