Meu pai traiu minha mãe… e eu? - Carta de uma paciente

Meu pai traiu minha mãe… e eu? – Carta de uma paciente

Acordei um dia ouvindo dos meus pais aquela notícia que, para qualquer filho, soa como um terremoto: “a separação”. Por mais que, em certos momentos, eu tenha desejado que isso acontecesse, nada nos prepara para o impacto da realidade quando ela finalmente chega.

Às vezes, até torci para que se separassem, e, sinceramente, talvez até desejasse que tivessem feito isso antes. Mas, quando o inevitável acontece, o medo do que está por vir se instala.

Como vai ser minha relação com meu pai? Como vai ser minha relação com minha mãe? Vou conseguir lidar sendo filha de um casal que agora vive em conflito?

O que mais me abalou foi descobrir que a causa da separação era uma traição. Meu pai traiu minha mãe. Só que ninguém se preocupou em perguntar como eu me sentia em meio a tudo isso. Não era apenas minha mãe que meu pai traiu; era a nossa família. Sei que essa discussão pertence ao casal, mas como olhar nos olhos do homem que trouxe uma estranha para dentro da nossa vida, sem pedir permissão a ninguém?

E, no meio de todo esse caos, como consolar a mulher que me deu a vida? A pessoa que me carregou por nove meses e que, agora, mal consegue comer de tanta tristeza. Ela sempre será minha mãe, mas ele ainda será meu pai? E mais importante, quem sou eu no meio dessa confusão?

Meu pai traiu minha mãe… e eu?

Essa é a questão que me sufoca. Como ficam meus sentimentos? E os meus desejos, minha confiança e minha fé no amor? A minha visão dos relacionamentos futuros e, mais doloroso ainda, minha confiança nos homens com quem vou me relacionar?

Será que meu pai pensou em mim antes de tomar aquela decisão? Em algum momento, ele imaginou que parte das consequências de sua escolha seria me perder? Mesmo que um pouco, mesmo que apenas emocionalmente?

A traição foi um golpe, não só para o casamento deles, mas para mim também.

Agora, carrego uma sombra, um medo constante de ser traída. Ao mesmo tempo, me pego incapaz de confiar em qualquer homem. Afinal, como confiar, se o único exemplo de homem que eu tinha, meu pai, destruiu nossa confiança?

Esse trauma não é apenas uma dor momentânea. É como se, com a traição, meu futuro estivesse marcado. Como se eu estivesse condenada a viver o mesmo tipo de decepção em meus próprios relacionamentos. Não sei mais o que esperar, além de desapontamento. Não consigo visualizar nada diferente.

Sim, ele traiu minha mãe. Mas, mais do que isso, ele traiu a mim, à menina que acreditava que seu pai seria sempre um exemplo de proteção e segurança. Agora, tudo parece incerto. Meu pai traiu minha mãe… e eu?

Os traumas familiares, a traição e como lidar com eles

Quando um pai trai a mãe, o impacto emocional pode ressoar em toda a família. Para os filhos, não é apenas uma questão de observar o sofrimento dos pais, mas de lidar com a quebra de confiança e a sensação de perda. Um trauma desse tipo afeta profundamente a forma como a pessoa enxerga seus relacionamentos e até a si mesma. Sentimentos de insegurança, desconfiança e medo podem surgir, moldando as interações futuras.

Lidar com o trauma causado por uma traição familiar exige paciência e, principalmente, o reconhecimento de que o trauma é real. Muitas vezes, os filhos são deixados à margem dessas discussões, vistos como meros observadores. No entanto, é essencial reconhecer que, para eles, a dor é igualmente intensa. A traição não atinge apenas a relação conjugal; ela afeta a visão que os filhos têm de amor, segurança e proteção.

Reconstruir as relações após um trauma assim é complicado. Requer diálogo, reconhecimento das emoções e, em muitos casos, o acompanhamento psicológico para encontrar caminhos para seguir em frente, sem que a dor determine o futuro.

traumas psicológicos

O que é fazer terapia pela lente de traumas?

Fazer terapia, quando se trata de lidar com traumas, é muito mais do que simplesmente falar sobre a dor. Trata-se de entender como eventos do passado moldam os comportamentos, crenças e emoções no presente. Traumas não processados podem se manifestar de várias formas: ansiedade, depressão, dificuldades de relacionamento e até mesmo problemas físicos, como dores crônicas.

A lente dos traumas na terapia se foca em identificar como a experiência traumática continua a afetar a pessoa e trabalhar com técnicas que ajudem a “desligar” o alarme emocional que fica ativado após um evento como uma traição familiar. Em vez de ignorar ou suprimir o que aconteceu, a terapia busca trazer essas memórias à tona de forma segura, para poderem ser processadas e, eventualmente, curadas.

O terapeuta age como um guia, ajudando a pessoa a reconstruir a narrativa do trauma, permitindo que o paciente encontre novas maneiras de lidar com os sentimentos e construir uma perspectiva de vida mais saudável e equilibrada.

Libertação feminina: liberdade de buscar o que realmente faz sentido no seu mais profundo íntimo. Ter Autenticidade. É sobre não precisar agradar a sociedade, sua família, seus filhos, os homens em geral e ainda assim ser segura de si, de seu corpo e do seu autoamor. Estar feliz e satisfeita com o seu jeito de ser e viver, segura com suas escolhas e saber que busca sempre o melhor dentro de suas competências e potencialidades atuais.

Tratamento para traumas: Abordagens de EMDR e Brainspotting

Duas abordagens bastante eficazes no tratamento de traumas são o EMDR (Eye Movement Desensitization and Reprocessing) e o Brainspotting. Ambas são técnicas que trabalham diretamente com a forma como o cérebro processa e armazena as memórias traumáticas.

  • EMDR: Essa técnica utiliza o movimento dos olhos ou outras formas de estimulação bilateral para ajudar a pessoa a reprocessar memórias traumáticas. A ideia é que, ao realizar movimentos oculares enquanto revive a memória traumática, o cérebro seja capaz de reclassificar aquela lembrança de uma forma menos dolorosa. Esse processo diminui a carga emocional da memória, permitindo que o indivíduo a processe de maneira mais saudável.
  • Brainspotting: Assim como o EMDR, o Brainspotting também busca reprocessar o trauma, mas ele se concentra em pontos visuais que desencadeiam a resposta emocional. Ao focar em um “ponto cerebral” específico, o terapeuta ajuda o paciente a acessar as áreas do cérebro onde o trauma está armazenado, permitindo que a emoção seja liberada e a cura comece.

Essas abordagens são especialmente eficazes para traumas profundos, como a traição de um pai, porque trabalham diretamente com o sistema nervoso, ajudando a reestruturar as respostas emocionais e diminuir o impacto negativo que essas memórias têm no dia a dia.

O que acontece quando um trauma sério não é tratado?

Quando traumas, como a descoberta de uma traição familiar, não são tratados, suas consequências podem se prolongar por toda a vida. Ou seja, trauma não desaparece sozinho e, muitas vezes, acaba por se manifestar em áreas inesperadas. Sendo assim, a pessoa pode desenvolver problemas de confiança, tanto em relacionamentos pessoais quanto profissionais. Bem como, carregar consigo sentimentos de raiva, tristeza e medo que parecem insuperáveis.

Traumas não resolvidos podem causar o desenvolvimento de transtornos psicológicos, como depressão, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e outros. Além disso, a pessoa pode começar a repetir padrões negativos de comportamento, baseados nas experiências traumáticas, prejudicando seus relacionamentos e sua qualidade de vida.

Quando um trauma tão profundo não recebe atenção, ele molda como a pessoa interage com o mundo, reforçando crenças distorcidas sobre si mesma e sobre os outros. Portanto, o tratamento é crucial para quebrar esse ciclo e permitir que a pessoa viva uma vida mais plena e equilibrada.

Sou Betila Lima – Psicóloga

Formada em Psicologia desde 2007, com formação em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva Comportamental, Terapia de EMDR e Brainspotting.

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