Quando olhamos para nossa infância, é comum encontrar momentos de pura inocência, diversão e aprendizado. No entanto, para algumas pessoas, essas memórias são ofuscadas por responsabilidades precoces e exigências emocionais que não cabem a uma criança.
Ser uma “criança adulta” é um termo que descreve essa experiência, onde a infância é marcada por um amadurecimento forçado devido à incapacidade dos adultos ao redor de curar suas próprias feridas emocionais.
Sendo assim, exploraremos neste artigo as implicações de ser uma criança adulta, como a psicoterapia pode ajudar a tratar esse assunto e o que a neuropsicologia tem a nos dizer sobre esse fenômeno.
As Implicações de Ser uma Criança Adulta
1. A Perda da Infância
Uma das consequências mais devastadoras de ser uma criança adulta é a perda da infância. Ou seja, as crianças que assumem responsabilidades emocionais ou práticas antes do tempo acabam perdendo momentos cruciais de desenvolvimento. Brincadeiras, sonhos e até mesmo o aprendizado natural das interações sociais são substituídos por preocupações e medos que não pertencem a essa fase da vida.
Em primeiro lugar, a falta de uma infância plena pode levar a problemas na vida adulta, como dificuldade em estabelecer relacionamentos saudáveis, baixa autoestima e um constante sentimento de inadequação. Sendo assim, essas crianças, ao se tornarem adultas, muitas vezes enfrentam desafios emocionais significativos porque foram forçadas a amadurecer rapidamente, sem o suporte adequado.
2. A Sobrecarga de Responsabilidades
Crianças que crescem em ambientes onde precisam ser “pequenos adultos” muitas vezes assumem responsabilidades desproporcionais à sua idade. Sendo assim, pode incluir cuidar de irmãos mais novos, lidar com problemas financeiros da família ou mesmo tentar ser o suporte emocional de um dos pais. Essa carga excessiva pode resultar em estresse crônico, ansiedade e outros problemas de saúde mental que se manifestam na vida adulta.
Além disso, essas crianças podem desenvolver um senso de perfeccionismo e autoexigência, já que muitas vezes são levadas a acreditar que precisam ser impecáveis para manter a estabilidade familiar. Esse perfeccionismo pode continuar na vida adulta, levando a burnout e a uma constante insatisfação com suas próprias conquistas.
Como a Psicoterapia Trata Esse Assunto
1. Revisitando a Criança Interior
A psicoterapia oferece um espaço seguro para que esses adultos possam revisitar sua infância e processar as emoções reprimidas. Portanto, um dos principais objetivos é permitir que o indivíduo reconheça a criança que ainda existe dentro de si e que nunca teve a oportunidade de ser ouvida.
Durante as sessões de terapia, o paciente é incentivado a explorar suas memórias de infância, identificar momentos traumáticos e reavaliar as crenças formadas nesse período. Por meio desse processo, é possível começar a curar as feridas emocionais que permanecem abertas. Como resultado, permitindo que hoje, o adulto, viva uma vida mais plena e equilibrada.
2. Desenvolvimento de Novas Perspectivas
A psicoterapia também ajuda o paciente a desenvolver novas perspectivas sobre sua infância e suas experiências. Ou seja, ao entender que as responsabilidades assumidas não eram apropriadas para sua idade, o indivíduo pode começar a aliviar o peso da culpa e da vergonha que muitas vezes carregam. Com o apoio do terapeuta, o paciente aprende a ressignificar suas experiências e a construir uma narrativa mais saudável sobre sua própria vida.
Esse processo de ressignificação é crucial para que o indivíduo possa desenvolver uma autoestima mais saudável e estabelecer relacionamentos mais equilibrados na vida adulta. A terapia também pode auxiliar na criação de novos hábitos e comportamentos que promovam o bem-estar emocional e a realização pessoal.
O Que a Neuropsicologia Tem a Dizer Sobre Ser uma Criança Adulta
1. Impacto no Desenvolvimento Cognitivo
A neuropsicologia estuda como as experiências de vida influenciam o desenvolvimento cognitivo e emocional. Portanto, crianças que assumem responsabilidades adultas precocemente podem experimentar alterações no desenvolvimento do cérebro. Especialmente em áreas relacionadas ao gerenciamento do estresse e às emoções. Sendo assim, essas alterações podem resultar em dificuldades de regulação emocional, memória e tomada de decisões na vida adulta.
2. Resiliência e Neuroplasticidade
No entanto, a neuropsicologia também nos ensina sobre a resiliência e a neuroplasticidade – a capacidade do cérebro de se adaptar e se recuperar de experiências adversas. Mesmo que uma pessoa tenha sido forçada a amadurecer precocemente, o cérebro possui a incrível habilidade de se reestruturar. E com o tempo e com o apoio adequado, como a terapia, essa situação melhora.
Intervenções terapêuticas baseadas em neuropsicologia, como a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), podem ajudar a reprogramar padrões de pensamento negativos e fortalecer as conexões neurais que promovem uma visão mais positiva e equilibrada da vida. Essa reprogramação é essencial para que o indivíduo possa superar as consequências de ter sido uma criança adulta e viver de forma mais plena.
Ser uma Criança Adulta
Por fim, ser uma criança adulta traz consigo um conjunto único de desafios que podem impactar profundamente a vida adulta. No entanto, com o apoio adequado, é possível curar as feridas da infância e desenvolver uma vida emocionalmente saudável e equilibrada. Sendo assim, psicoterapia e a neuropsicologia oferecem ferramentas poderosas para ajudar nesse processo de cura e ressignificação.
Sou Betila Lima – Psicóloga
Formada em Psicologia desde 2007, com formação em Neuropsicologia, Terapia Cognitiva Comportamental, Terapia de EMDR e Brainspotting.
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